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ALI KAMEL
DICIONÁRIO
LULA
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nos fixamos nas 540 palavras mais repetidas pelo presidente. Para definir
esse
ranking
, as palavras e suas derivadas foram consideradas como um
só conjunto semântico: por exemplo, “bandido” leva em conta também a
frequência de “bandidos”, “bandida”, “bandidas”, “bandidagem” e “bandi-
tismo”. Para dar outro exemplo, o mesmo aconteceu com “consumo”, cuja
frequência foi somada à de “consumidor”, “consumidora”, “consumidoras”,
“consumidores”, “consumismo”, “consumir” e todas as flexões desse verbo.
Outro software, desenhado especialmente para este livro pelo analista de
sistemas Wilson Pacheco de Albuquerque, além de contar palavras, frases
e expressões, permitiu visualizá-las no parágrafo e/ou no texto integral
em que forammencionadas. A partir daí, o trabalho foi de garimpeiro: ler
o maior número possível de ocorrências tentando encontrar aquelas se-
manticamente significativas. Nem todas, porém, se prestaram a verbetes.
“Gente”, por exemplo, foi usada por Lula 19.828 vezes, mas em praticamen-
te todas como variante do pronome pessoal “nós”: assim, não se conseguiu
chegar a uma definição da palavra “gente” como sinônimo de “pessoa”. Ca-
sos como este fizeram a lista de verbetes se reduzir a 347.
Em todos os verbetes, foi mantida a transcrição tal como feita pela
Presidência, com poucas alterações. Não se procurou saber se os textos
passaram por alguma correção ou se espelham fielmente a prosódia de
Lula. Notou-se, porém, que alguns erros de regência e concordância es-
tão presentes, e forammantidos aqui porque respeitam a sintaxe popular
usada pelo presidente, sem que o livro os realce graficamente (simples-
mente porque não se pretendeu aqui estudar a correção gramatical de
Lula). A pontuação usada por quem fez as transcrições é às vezes confusa.
Para o bom entendimento do leitor, o livro alterou a pontuação quando
isso se fez necessário.
Para cada verbete, há uma definição mais geral seguida de um número
variado de subverbetes, todos eles com a indicação da data em que o dis-
curso foi proferido, o local e a ocasião. Entre colchetes, está a identificação
das pessoas citadas, sempre respeitando os cargos e as ocupações que ti-
nham à época do discurso. Tome-se a título de exemplo o verbete “amigo”.
A definição geral foi:
O verdadeiro amigo não é aquele que fica dando tapinha nas costas. De vez em
quando, o verdadeiro amigo é aquele que faz uma crítica, é aquele que chama
a atenção. Esse é, muitas vezes, mais amigo do que aquele que fica só “Ah, está
maravilhoso. É bonito. Está extraordinário.”
(1/5/03, Indaiatuba – SP. Visita ao
Retiro de Itaici – CNBB)
publica em sua página da internet, com grande agilidade, todos os dis-
cursos e entrevistas de Lula, além do
Café com o Presidente
. Cada discurso,
cada entrevista e cada programa ganham um link próprio, um arquivo
eletrônico separado, o que torna impossível trabalhá-los como um todo.
O primeiro passo, então, foi abrir um a um os textos, copiá-los e, depois,
colá-los num único arquivo Word. Os discursos apenas protocolarmente
lidos foram desprezados (com duas exceções que serão reveladas em bre-
ve). Só foram levados em conta os discursos improvisados no todo ou em
parte (além de todas as entrevistas e todos os
Cafés com o Presidente
). Não se
tratou de considerar que os discursos escritos por terceiros não reflitam
o pensamento de Lula: se foram lidos, é porque foram previamente dis-
cutidos com ele e dele receberam o “aceite”, como ocorre em todo o mun-
do. Mas, como se trata de um trabalho sobre a fala do presidente, entendi
que o Lula mais real está no improviso (mesmo que ele se manifeste em
meio a um discurso lido). Não quero dizer que todo improviso seja fruto
da espontaneidade: muitas vezes, são também resultado de elaborações
prévias e podem ser o produto de discussões longas com assessores. Mas,
em grande medida, eles estão mais próximos de Lula do que textos intei-
ramente escritos por terceiros. E guardam frequentemente uma relação
estreita com o espontâneo, o que leva a riscos, como mostrarei em breve.
Apesar dos expurgos, a quantidade foi imensa: 1.554 textos (847 discursos,
503 entrevistas e 204 programas radiofônicos), um total de 3.171.006 pala-
vras (nas entrevistas e nos programas, não foram levadas em conta as per-
guntas). Considerando que, em média, um artigo publicado nas páginas
de Opinião de um jornal como
O Globo
, por exemplo, tem 650 palavras, os
discursos improvisados, no todo ou emparte, as entrevistas de Lula e seus
programas de rádio equivaleriam a 4.878 artigos, um volume suficiente
para ele publicar um artigo diário, de domingo a domingo, por longos 13
anos e seis meses. Foram analisados dois períodos: o primeiro, de janeiro
de 2003, ano da posse, a maio de 2008, quando a pesquisa para o livro foi
iniciada; e o segundo, de setembro de 2008, mês da falência do Lehman
Brothers, a 31 de março de 2009, para que os verbetes econômicos não fi-
cassem defasados em relação à crise financeira de 2008. Estatisticamente,
trata-se de um volume altamente significativo.
Uma vez reunidos em um só arquivo, o TextSTAT, um software li-
vre que relaciona todas as palavras usadas num texto e a sua frequência,
permitiu criar um “léxico Lula”: desprezamos os pronomes, conjunções,
preposições, verbos auxiliares e nomes próprios pouco significativos, e
1,2,3,4,5,6,7,8,9 11
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