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não
somos
racistas
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estrutura, quase ritual, em forma de drama social, mudou pouco
nesses últimos anos. Posições contra e a favor das cotas na mesa e,
na platéia, um grupo ruidoso que clama pelas cotas raciais e acusa
de racistas os que criticam a política.
Acusados de defender os privilégios de uma elite branca que
se beneficiou e se beneficia com o racismo, o que na nossa so-
ciedade é crime que envergonha, os críticos da política de cotas
raciais ficam acuados. Se isso ocorre com aqueles que estão no
meio acadêmico ou em ambientes menos formais, mais ainda com
Ali Kamel que, além de cientista social e jornalista, é também um
importante executivo de jornalismo das Organizações Globo. Exe-
cutivos de grandes redes, usualmente, não manifestam suas posi-
ções pessoais sobre temas nacionais. Por isso, sua participação no
debate público é tão importante para demonstrar que as empresas
da mídia são instituições formadas por alguns indivíduos que têm
opiniões próprias, uma outra batalha que Ali Kamel vem travando
com muitas patrulhas de plantão.
Logo no início deste livro, cuja base são os artigos que Ali Ka-
mel vem publicando no jornal
O Globo
, há um capítulo sobre
“raça”. “Raças não existem”, diz o autor. Ressuscitar esse conceito
já negado pela ciência seria uma armadilha para o país. Ali Kamel
enfrenta sem medo os números que, em geral, levaram muitas
pessoas a se envergonhar do “nosso racismo”. Pergunta ainda o
propósito de unir “pretos” e “pardos” em uma única categoria,
a categoria “negro”, e vê aí o desejo dos movimentos negros que
querem o país dividido em brancos e negros, idéia essa que de-
senvolve no segundo capítulo. “Sumiram com os pardos” revela
o “truque” que é usado para descrever o país dividido. Os movi-
mentos negros e também os cientistas sociais que se colocaram
a favor da política de cotas chamam de “negros” o conjunto de
“pretos” e “pardos” conforme as estatísticas oficiais. Assim, em vez
de uma população de 5,9% de pretos, as estatísticas divulgadas em
prol da política de cotas falam em 48% de “negros”. Os 42% de
1,2,3,4,5,6,7 9,10,11,12,13,14,15,16,17,18,...20
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