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Sobre o Islã
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dos os acontecimentos. O terrorista prossegue: “Então, veio
a operação...”
Bin Laden o interrompe para que ele próprio dê o fecho à
história: no dia da operação, estava com um grupo grande, do
qual fazia parte o rapaz do sonho, quando, pelo rádio, veio a
notícia do primeiro avião: “Eles festejaram muito o primeiro
avião. Pensaram que aquilo seria tudo. Eu então disse a eles:
‘Sejam pacientes!’”
Ao ouvir o desfecho, o xeque que está sendo visitado não
resiste e diz: “Por Deus, isso é surpreendente. Por Deus,
xeque!”
Bin Laden sorri orgulhoso, coça a cabeça, e continua ou-
vindo elogios derramados ao sucesso de sua empreitada. Ao
todo, a fita tem pouco mais de vinte minutos.
Não, eles não são loucos. Eles têm um projeto político
mundial bem definido e vêm seguindo meticulosamente o seu
plano há mais de uma década. Para mim, um brasileiro de
origem árabe, ver a religião de meu pai e de meu avô mater-
no (que morou em nossa casa a vida inteira) ser usada para
matar multidões sempre foi um choque enorme. No vídeo,
os terroristas estão relaxados e falam em Deus o tempo in-
teiro. Na minha infância, minha família nunca foi das mais
religiosas, mas nunca vi meu pai ou meu avô se sentarem à
mesa sem antes dirigirem em árabe, baixinho, algumas pala-
vras a Deus (embora jamais tenham esperado de nós, crianças,
que tivéssemos a mesma atitude). Eram as mesmas palavras que
ouço, agora, no vídeo. É perturbador. Por exemplo, quando Bin
Laden conta que era o mais otimista em relação ao número de
mortos, o xeque visitado diz: “Deus seja louvado!” O mesmo
xeque afirma que, ao ouvir a notícia dos atentados em sua
casa, todos gritavam: “Deus é grande, nós somos gratos a
Deus, louvado seja Deus, graças a Deus.” A cada sonho nar-
rado, alguém na sala diz: “Deus seja abençoado!”
Como podem envolver Deus nisso? Que processo leva essas
pessoas a criar, a partir de uma religião que se quer pacífica,
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